Loading

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Carta à Fran, a menina massacrada por um vídeo de celular

Nathalia Ziemkiewicz

Fran,
Meu celular acabou de apitar avisando uma mensagem nova no Whatsapp. Era um vídeo de 13 segundos em que você aparece fazendo um boquete e perguntando ao câmera: “quer meu c*zinho apertadinho?” – fazendo um sinal de OK. Eu deveria ter achado graça, caído na gargalhada e compartilhado com outros contatos. Porque, afinal, é só mais uma “vagabunda que se deixou filmar” e cujas imagens acabaram vazando para milhares (milhões?) de desconhecidos. Como se nenhuma moça “direita” pudesse chupar um pau ou ficar de quatro. Como se ninguém falasse baixarias a dois. Como se fosse absurdo realizar a fantasia de ser filmada enquanto transa.

Lamento muito por todos os comentários grotescos e ofensivos que têm circulado na internet. Eles foram feitos pelas mesmas pessoas que acreditam que, se estava de saia curta na rua, pediu para ser estuprada. Tipo: não queria ser exposta, então não deveria ter se deixado filmar. É uma lógica machista que inverte os valores. Você é puta – e não o cara, um mau-caráter. Querida, nossa sociedade está mergulhada nos próprios pudores. Não há nada de errado no que você fez. A cretinice da história toda pertence somente àquele(a) que primeiro repassou o vídeo de um celular privado para uma rede infinitamente invisível.
A graça com a desgraça dos outros:
 internautas fazem o sinal de OK
em referência ao vídeo de Fran
Espero que você tenha visto a página Apoio à Fran, já com quase 2 mil apoiadores no Facebook: “ela é a vítima”. Sabe, em 2006, uma jornalista que eu venero contou uma história parecida com a sua. Fotos de uma garota de 20 anos transando com dois caras foram parar no Orkut. Ela e a família precisaram mudar de cidade para recomeçar a vida publicamente destroçada. Eu desejo que você consiga se perdoar. Posso imaginar a culpa e a vergonha que você está sentindo. E torço para que os leitores dessa carta sejam mais humanos e menos hipócritas do que eu tenho visto por aí. A foto desse post é o abraço que eu gostaria de te dar.
Nathalia Ziemkiewicz, jornalista e autora do site Pimentaria
Uma amiga de Fran me contou que ela só sai de casa para ir aos advogados e à delegacia. Está em pânico, morre de medo de ser reconhecida.

Um comentário:

Anônimo disse...

Meu Deus, estamos vivendo em um tempo em que a hipocrisia impera. "Faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço".Aposto que mais da metade dos que estão massacrando essa menina fizeram ou fazem coisas bem piores, e não me refiro às suas vidas sexuais. Sabe, essas redes sociais me amedontram. Sua vida pode ser destruída em questões de minutos se vc. der um pequeno vacilo que seja.
Acabou a privacidade. E qqer um se acha no direito de invadir sua vida e acabar com ela.
Pára o mundo que eu quero descer... de novo.